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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Pensar Considerando: Um livro Sagrado e as duas Faces - O Livro de Eli

Pensar Considerando: Um livro Sagrado e as duas Faces - O Livro de Eli

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Um livro Sagrado e as duas Faces - O Livro de Eli

O filme, O Livro de Eli, é uma ficção que narra a história de um personagem que se mostra vocacionado a levar o último exemplar das Sagradas Escrituras da tradição judaico-cristãs em direção ao oeste, onde acredita que esta possa ser salvaguardada e benéfica ao futuro da humanidade. O contexto desta ficção é perturbador, a violência predominantemente é a linguagem da sobrevivência, muitos sobrevivem do canibalismo, a maioria dos sobreviventes não conhecem a leitura; eis um tempo pós-guerra onde a Bíblia fora considerada sua causadora, por isso caçada e seus exemplares destruídos.

Eli é um sobrevivente da antiga ordem vivenciando um período caótico, sem organização social. Em busca de água, ele chega num local semi-organizado por regime ditatorial, onde seu líder quer a todo custo encontrar um exemplar da bíblia, para utilizá-la como instrumento de controle das pessoas. Na empreitada de escapar deste lugar e proteger o livro sagrado, em meio a conflituosas situações, Eli sutilmente se mostra íntegro as suas convicções, consola, gera esperança, e aponta para a transcendência ao praticar sua síntese do livro: "fazer o bem aos outros" e não somente para si.

O interessante da representação de Eli e do Ditador como personagens em foco é a divergência de sentido atribuído sobre um mesmo conteúdo. Apesar de ambos reconhecerem um valor especial da Palavra: um poder capaz de afetar, criar íntimas significações e influenciar na transformação da realidade. Eli é uma face representando a palavra como possibilidade de libertação (ato de liberdade) em prol da humanidade, um tipo de senso de cuidado e co-responsabilidade ideal para aqueles que querem ser sócios. A outra face, a do ditador, encarna o interesse pela manipulação das pessoas, por meio de um exercício maquiavélico onde o benefício, a benevolência e a fé não passam de instrumentos para a manutenção do poder a favor de si mesmo, uma atitude em contradição ao bem comum; a “Palavra Certa”, segundo ele, é o melhor meio para dominar as pessoas e tirar proveitos. Assim temos das duas faces, traços humanos que não fazem parte de um mesmo rosto, articulando sobre uma fonte de textos geradores de sentido.

Os papeis encarnados pelos dois personagens podem ser úteis a reflexão do significado da idéia do sagrado como atitude humana, não tendo por oposição o profano, mas sim a negação do cuidado, da solidariedade, da co-responsabilidade e do bem-comum como idéias que simbolizam a concretude da harmonia entre bem-estar do indivíduo e o bem-estar coletivo. De modo algum, deve-se atribuir ao ditador a representação do profano, porém a negação de valores e práticas que unem e aprimoram o humano.

O filme, para além da ficção, pode ser um modo sutil de apontar o que acontece no mundo dos fatos, onde por diversas formas há quem use sistemas alienantes versus um processo por uma justa conjuntura de pessoas livres. A face de Eli representa o arquétipo da liberdade a favor de uma causa para o comum, o que pressupõe consciência, discernimento e um espírito alerta contra lideranças que por meios alienadores usam o poder exclusivamente a favor de si.

Salvo tais considerações, que elementos unem e quais separam a humanidade? Quais são as faces? O que os lideres e as idéias representam na vida real? Que atitude se tem diante das influências? Nesse mundo real de instituições, igrejas, partidos, associações e outros, quais são as motivações à liberdade e o quais são os instrumentos de alienação? Afinal, o que significa ser livre numa causa para o comum?

Como convite, aplicar-se sobre tais questões tem por finalidade gerar contato com a realidade presente. Somente em contato com o próprio tempo pode-se estar sensibilizado para emitir algum juízo e exercitar a criatividade e a liberdade.