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terça-feira, 15 de março de 2011

Traição Simbiótica

Fiquei a pensar nestes dias sobre os perigos da expansão de nossas consciências, delas não serem expansões inclusivas! Como assim Maicon? Muitas vezes valorizamos mais o ensinamento do que as situações. É fácil para um jovem empolgado com uma religião por exemplo criticar todos os jovens não-religiosos, é facil ele somente ser mensageiro de coisas e não uma pessoa que encarne o momento que vive com seus colegas ainda que traia seus conteúdos. É fácil também ele se deter no "imperativo situacional" e não expandir-se além do mesmo. Somos viciados em fundir o nosso mundo em expansão com nossa história pessoal, a nossa tribo, nossa estética!

É fácil a um burguês dizer que um pobre é desorganizado, que não se trata de um bom cônscio de si.

É fácil um pobre se dirigir ao um burguês já como símbolo de explorador!

É fácil sairmos de nossas aulas de sociologia e história tão ricas, e nos depararmos com um mundo em "involução" nas nossas casas ou com gente que não sabe quem é Joaquim Nabuco e ficarmos doidos querendo ser os novos missionários libertários mentais da gente ignorante.

Acredito que foi o mesmo sentimento que houve nos europeus ao chegarem aqui no Brasil e olharem os índios. Nâo só a questão da superiodade estava em jogo, mas havia um processo por traz dela, uma complexidade construída no pensamento europeu, que os permitia ter uma certa harmônia com seu próprio mundo produzido e que gerava frutos particulares e com cores próprias desse povo que os nativos não tinham, como caravelas, ouro, palácios, roupas, estudos, faculdades, cadeiras, garrafa, barril, vinho, espelho, Cristianismo, etc e que os faziam ter o sentimento de superioridade. Eles sabiam mexer na realidade de uma forma peculiar, ainda que errada mas peculiar, com isso caíram num estado perigoso que resumi num pensamento: Pior do que a soberba de gente que não tem nada, é a soberda de gente que tem alguma coisa!

Sempre olhamos os índios como seres míticos que tinham total inteireza com a terra que viviam. Será? Será que nessas culturas também havia fomento cultural ou estavam estagnadas? Se estavam em fomento os europeus erraram, mas se estavam estagnadas, concordam que eles poderiam ter tido o mesmo comportamento de quem está expandindo seus horizonte ou os já expandiu de maneira não inclusiva? Lembro de um salmo que diz assim: "...Os homens são mentirosos, não os siga, ainda que o que façam dê certo, não acredite neles, pois eu sou Teu Deus!...". Que lindo existem parâmetros além das nossas contruções!

Vejo que as pessoas se irritam com o que é estagnado. Por exemplo, jovens descompromissados com a política. Apelamos mais pra nossas crítica que eles não são militantes do que pensar que talvez não estamos tendo conteúdo e linguagem o suficiente para penetrar no seu mundo , percebê-lo, encarnar a vida com ele. Mas veja, os dois sentimentos estão certos, somente os pesos das balanças estão errados, nos focamos sempre em um lado mais que o outro.

Li num blog a seguinte frase "... Stephen Roberts disse certa vez: “Eu proponho a idéia de que todos somos ateus, mas eu acredito em um Deus a menos do que você. Quando você entender por que motivo não crê nos inúmeros outros deuses além do seu, entenderá por que eu não creio nele também”. É fácil para um judeu não crer em Cristo, para um cristão não crer em Alá, e assim por diante..." é facil querer remodelar e corrigir quando o cálo em que pisamos não é o nosso. Gilberto Freyre disse que ao escrever o livro Casa Grande e Senzala poderia ser comparado com um dentista operando o próprio dente!

Por mais sofiscada e legítima que seja nossos conteúdos e educação temos que ter existência com quem não tem nada ou que tem diferente. Encarnar! Ser simbiótico com as pessoas é diferente do que ser seu mestre. As vezes devemos trair nossos mestres, tradição, nosso ideal em nome da simbiose da compaixão, do companherismo, do contato profundo.

Vivi uma situação simples e interessante, estive em Itaipava no Carnaval com minha namorada! Lá estavamos no Shopping Estação lotado de gente da classe alta da cidade e do Rio de janeiro, lá estava eu olhando aquele lugar com a lembrada que a 10km dali muitas pessoas estão casa, muitos sem seus parentes. Minha namorada estava com fome, mas me recusei por um instante comer ali, como um ato de protesto pessoal contra a acumulação de renda desenfreada, a divisão de espaços sociais, exploração de trabalho naquelas lojas. Mas por um instante parei e pensei: Ela está com fome! Parei e fui, comi avontade. O próximo não é só pobre, o próximo é a bola da vez também! É mais fácil nos determos na estética e legítima lutas das classes e criamos uma máscara da segurança de ter uma posição a defender e nos esconder de quem as vezes está do nosso lado e precisa de um ombro, não gostamos de coisas que toquem nossos nervos!

Precisamos muito ajudar, mas precisamos muito ter Contatos Profundos um com outro, para muitos ajuda se transformou em consultoria, Deus em religião e personagem de literatura exótica, a experiência- assunto catalogado nos livros antigos, a intelectualidade virou moeda no mercado capital, não se compartilham mais porque estão tão empenhados na expansão que esquecem o seu propósito principal, dar paz e " contatos profundos " as pessoas.

Hojé é perigoso. Na era da expansão do pensamento, onde os pesos da balaça estão num prato só, esquecemos da expansão da Experiência, da Vida, uqe não é uma corporação nem funciona nas mesmas regras, esquecemos o Tempo, hoje passamos tempo longe da familia porque temos que estudar, longe dos alunos que temos que pesquisar, longe de transcendente porque temos que trabalhar e traduzi-lo e assim por diante, ficamos num gerundio sem sentido, sem direção e sem borda, sem onde tocar! Nessa hora me vem o sentimento de encerrar esse texto, deixar meus livros e trabalhos de lado e ir conversar com minha Mãe no sofá e nos mergulharmos!

Maicon Fecher

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Unívoca


Quando eu vi que lá do outro lado, negro era a paz

Juro que de cá me admirei

Quando eu vi que aqui, branco era a paz

Juro que cá descobri a unidade que faz a paz


Olhos largos, olhos amendoados

Traços e cores em tantas faces

Sutilezas e sabores em tantas distinções

A diferença é o igual pra lá de semelhanças


Não sei brincar de sorrir

Sorrir já é brincar

Brincar é coisa séria

Coisa séria é ser feliz


Pra que tanto se apegar

Se o que há, há

E o que será, será? Não sei

E aqui estou a parar de perguntar.

Vou deixar a dúvida no ar...

Para assim continuar

Que nem de lá, nem de cá

Apenas, em comum estar.


É só isso que eu quase sei...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Um livro Sagrado e as duas Faces - O Livro de Eli

O filme, O Livro de Eli, é uma ficção que narra a história de um personagem que se mostra vocacionado a levar o último exemplar das Sagradas Escrituras da tradição judaico-cristãs em direção ao oeste, onde acredita que esta possa ser salvaguardada e benéfica ao futuro da humanidade. O contexto desta ficção é perturbador, a violência predominantemente é a linguagem da sobrevivência, muitos sobrevivem do canibalismo, a maioria dos sobreviventes não conhecem a leitura; eis um tempo pós-guerra onde a Bíblia fora considerada sua causadora, por isso caçada e seus exemplares destruídos.

Eli é um sobrevivente da antiga ordem vivenciando um período caótico, sem organização social. Em busca de água, ele chega num local semi-organizado por regime ditatorial, onde seu líder quer a todo custo encontrar um exemplar da bíblia, para utilizá-la como instrumento de controle das pessoas. Na empreitada de escapar deste lugar e proteger o livro sagrado, em meio a conflituosas situações, Eli sutilmente se mostra íntegro as suas convicções, consola, gera esperança, e aponta para a transcendência ao praticar sua síntese do livro: "fazer o bem aos outros" e não somente para si.

O interessante da representação de Eli e do Ditador como personagens em foco é a divergência de sentido atribuído sobre um mesmo conteúdo. Apesar de ambos reconhecerem um valor especial da Palavra: um poder capaz de afetar, criar íntimas significações e influenciar na transformação da realidade. Eli é uma face representando a palavra como possibilidade de libertação (ato de liberdade) em prol da humanidade, um tipo de senso de cuidado e co-responsabilidade ideal para aqueles que querem ser sócios. A outra face, a do ditador, encarna o interesse pela manipulação das pessoas, por meio de um exercício maquiavélico onde o benefício, a benevolência e a fé não passam de instrumentos para a manutenção do poder a favor de si mesmo, uma atitude em contradição ao bem comum; a “Palavra Certa”, segundo ele, é o melhor meio para dominar as pessoas e tirar proveitos. Assim temos das duas faces, traços humanos que não fazem parte de um mesmo rosto, articulando sobre uma fonte de textos geradores de sentido.

Os papeis encarnados pelos dois personagens podem ser úteis a reflexão do significado da idéia do sagrado como atitude humana, não tendo por oposição o profano, mas sim a negação do cuidado, da solidariedade, da co-responsabilidade e do bem-comum como idéias que simbolizam a concretude da harmonia entre bem-estar do indivíduo e o bem-estar coletivo. De modo algum, deve-se atribuir ao ditador a representação do profano, porém a negação de valores e práticas que unem e aprimoram o humano.

O filme, para além da ficção, pode ser um modo sutil de apontar o que acontece no mundo dos fatos, onde por diversas formas há quem use sistemas alienantes versus um processo por uma justa conjuntura de pessoas livres. A face de Eli representa o arquétipo da liberdade a favor de uma causa para o comum, o que pressupõe consciência, discernimento e um espírito alerta contra lideranças que por meios alienadores usam o poder exclusivamente a favor de si.

Salvo tais considerações, que elementos unem e quais separam a humanidade? Quais são as faces? O que os lideres e as idéias representam na vida real? Que atitude se tem diante das influências? Nesse mundo real de instituições, igrejas, partidos, associações e outros, quais são as motivações à liberdade e o quais são os instrumentos de alienação? Afinal, o que significa ser livre numa causa para o comum?

Como convite, aplicar-se sobre tais questões tem por finalidade gerar contato com a realidade presente. Somente em contato com o próprio tempo pode-se estar sensibilizado para emitir algum juízo e exercitar a criatividade e a liberdade.