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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O tempo das Informações Terceirizadas - o raso pensar é real?

     .                                                               Quando não se sabe das influências recebidas e o que se gera de influências, o indivíduo se encontra condenado a inconsciência da realidade vivida.

Tristemente, poucos entenderão, algo falta!
Quando um candidato decide, não participar de um debate político, num determinado caso, é sem dúvida a melhor estratégia política quando se tem a maioria da opinião pública do seu lado.
Segundo o olhares populares, de onde se pode descrever que há duas compreensões figurativas no atual momento do Brasil, temos de um lado, um "endeusado grandioso" e do outro um demonizado "representando um ex-grandioso" em explicita oposição. Interessante como ponto comum, parece que ambos leram e entenderam os clássicos da humanidade que tratam de como buscar, gerenciar e manter o PODER, ou tem em comum a pura sorte carismática, ou o mais provável - tem uma assessoria de profissionais. Mas isso é apenas um ponto inspirador para tratar de um fenômeno que engloba a meu ver, inevitavelmente, a todos do século XXI.
Em prol do entendimento, começo com uma pergunta, qual será a estatística entre o povo brasileiro dos que leram e entenderam ao menos algo da obra, O Príncipe de Maquiavel? Quantos sabem da existência de um pequeno e lúcido livro como o Breviário dos Políticos do Cardeal Mazarin? Imagina, se agora, com tantas influências de dogmas religiosos no legislativo se ao menos ouviram falar dos conceitos de Poder Temporal e o Poder Espiritual segundo o "rebelde católico", Guilherme de Occam, o qual nesse quesito influenciou leitores nada menos que os pais do protestantismo? Todos esses conteúdos são saberes agora dissolvidos como ferramentas para manobras por muitos profissionais competentes. Incrível como em 2018 os corpos sejam e se mantem tão doceis, plena era de livre acesso as informações onde o indivíduo pode se sentir livre e com uma infalível capacidade certeira de opinião. Que produto somos? Quem somos como filhos do próprio tempo?
Testemunho essa realidade. Por acaso, você que lê este texto, já leu ou entendeu algo daquelas obras? Podem ser distantes, mas ofertam profundidade. Mas o que é isso profundidade? Em acidental oposição a um atual tipo raso de pensar, útil e rápido que quantitativamente vem prevalecendo e trazendo uma sensação de que cada um de nós sabe bem de tudo, ao menos um pouco , traz uma satisfação sem precisar do ir pouco mais. Assim temos por consequência um mundo de pretensos sábios, todos se sentem sábios portadores de inúmeras informações, nada mais que isso. estamos num mundo em que a sagrada liberdade de expressão se confunde com um pseudo íntegro saber. O raso pensar se tornou uma normose (uma patologia da normalidade) definitivamente não temos todos as mesmas competências, nem no pensar de onde vem nossas livres expressões, quanta pretensão pensar o contrário, não somos oniscientes. Mas esse tempo, mais uma vez prova o quanto cada um de nós facilmente pode-se tomar por alienação.
Talvez, o dinheiro não seja mais o maior motivador de idolatrias, mas o raso pensar, quem sabe? Em efeito coletivo com certeza é. O raso pensar atual é como uma doença que se espalha, silenciosa, invisível, NÃO É FRUTO DA IGNORÂNCIA POR FALTA DE DADOS, se dá por efeito do excesso de informações fragmentadas, instrumentalizadas e articuladas, sobre a falsa sensação de verdade segue sobrepondo-se sobre a ausência de uma reflexão aprofundada (UMA ÓBVIA QUALIDADE HUMANA) que exige tempo. O dano é que este estimulado raso pensar, o que não acredito ser um projeto conspirador, mas uma seguela do próprio tempo, inevitavelmente, segue gerando seus efeitos nas pessoas e na sociedade.
Parece que este raso pensar, em alguma esfera é um dado comum a todos nós, tornando-nos todos em
autoridades que não se dão conta de seu comando influenciador, um mundo onde os excessos de informações entre "fakes" e "truths" se misturam sobrepondo a um saber evolutivo, e portanto, em contínua construção. Um mundo onde se compra e vende informações via terceirização, onde muitos apenas reproduzem um mesmo, ou seja, alguém pensou primeiro por você, opinou primeiro por nós, e o resultado segue se desdobrando sem uma tomada de consciência, e sem essa ciência não há crítica. Nesse caso, os sentidos e compreensões estarão na maioria das vezes camufladamente predeterminados, não escapando nem os intelectuais, salvo suas especialidades e exceções, afinal a alma humana tem suas imprevisibilidades e que bom! Mas o fenômeno dos consumidores de informação seguem influenciados por ideias que alguém às sintetizou por ele, por mim, por nós. Onde está o filtro?
De algum modo, somos todos vitimizados ao efeito das "terceirizações bombardeando informes" amplificando o raso pensar. Esse fato, me faz pensar que assim se criou um novo tipo de massa de manobra, a dos bem informados, definitivamente não são ignorantes, mas provam que uma cultura de informação ainda é insuficiente ao espírito critico, discernente ao bom senso. Considerando isso uma constatação, torna-se compreensível as mil teorias de conspiração pseudo-fundamentadas a cada instante contrariando os fatos da historicidade. Todas essas falsas teorias estão manqueadas de lógicas e muita inteligência. Fato muito grave, pois estas só se mantem por efeito de crenças em equívocos sentidos como verdade e multiplicados por sensacionalismos nas redes de comunicação, o que justificam qualquer adesão pessoal e a integridade de caráter individual delimitado por sua própria realidade.
Vivemos um banquete de informações, onde vários atributos humanos são os convidados. Antagonicamente, entre os convidados, em posição de destaque os gêmeos, o Mal e o Bem estão se servindo na mesma mesa do banquete da Inteligência, e o ditado popular: "se correr o bicho pega e se ficar o bicho come" é a descrição perfeita desse dilema experimentado em nossa sociedade, um fenômeno que perpassa a vida de todos, explicitado como nunca na esfera das atuais campanhas políticas pelo mundo, mais que uma precisa ressonância, nas redes sociais têm-se tudo explicitado, conflitos, crenças e opiniões que revelam uma expressão quantitativa do raso pensar, um efeito das bases da mentalidade que caracteriza o tempo atual. Mas há esperança, pois nesta mesma mesa ainda há um lugares reservados para outros importantes personagens. Entre tais, há um convidado mais rebelde, tanto para o Bem quanto para o Mal, o Discernimento está a porta e parece ter fome. No momento apenas bate a porta, enquanto visualiza suas denúncias pelo olhar de fora, mas quer entrar. Os outros convidados, torcem pra que sua irmã, Prudência esteja junto dele, pois senão a briga será muito feia. Toda briga tende a consequências ruins para todos os lados. Mas de qualquer modo, na mesa da Inteligência estão todas as nossas possibilidades concretas de realizações e transcendência sobre o efeitos das fontes do raso pensar que seguem escravizando Astúcia em sua própria cama, a qual sempre gostou de implicar com a Liberdade. Nessa história podemos ser um porta aberta ou trancada. A escolha é nossa.
O mal do raso pensar é que ele se dá na humanidade sem culpa, sem percepção imediata, o meio naturalizado por esta cultura direciona estimula as mentes instituindo e alimentando o raso pensar. Este em sua natureza exclui a necessidade de aprofundamento que estaria na contramão do estilo de vida atual na sua exigência de eficácia de produção. Aprofundar, sair da superficialidade exige tempo, tornou-se de novo ociosidade, mera curiosidade, longe de gerar pessoas com mentalidades autônomas, precisa-se de gente funcional, esta é meta, o humano não se reduz ao funcional. Aprofundar não é prático, não é rápido, e tempo é dinheiro, pra que engrandecer a alma? Onde está o tempo e a disponibilidade ao livre empenho em direção as raízes dos assuntos? Será que estão nos jornais? Nas sínteses primeiras que aparecem no Google?... Será que nessa correria não há uma necessidade pessoal e político-educacional que possa inverter essa situação e multiplicar espíritos livres, influenciáveis sim, mas abertos a novas construções, que executem o caminho ao aprofundamento dialógico e integrativo em oposição aos dados fragmentados, e retome o respeito ao saber, a ponderação amadurecida, de modo que todos sejam respeitados em seu próprio contexto na condição de seres transcendentes de si mesmos ainda que estejam inseridos e contados como massa de manobra do informativo tempo "righttech"? É possível equilibrar o funcional e o humano saber para nosso bem. Isso é necessário.
Uma pessoa disse - "Seguir a onda gera menos atritos internos, não quero me decepcionar, prefiro a ilusão, combina mais com os sonhos produzidos que tanto desejo, sou um humano produto, me ensinaram para onde devo ir, descobrir pra quê? Essa é minha coerência. Tenho mais prazer assim, isso não é mediocridade, isso é a minha vida, estou bem assim, não acho que nem meus médicos tenham razão que o meu estilo de vida cheia de estresse e doses de prazer possam me levar um infarto fulminante aos 35. Tudo é mi mi mi, blá blá blá, vou perder meu tempo com isso!?." Fato, infartou aos 29 anos, sorte, estava no plantão do hospital. Entre algumas sequelas irreversíveis, a pior de todas, continuou um humano produto, sem transcendência de si mesmo, um dócil corpo que de tudo sabia um pouco.
Este modo de estar na vida é uma liberdade? É uma autonomia na aquisição e desenvolvimento do saber e da própria humanidade? Seria essa tendência uma nova escravidão agora regada de sonhos e doses de momentâneos prazeres a inflar o ego? Pode haver uma real satisfação assim? Estamos condenados a infelicidade pessoal e social? Pode haver integração e liberdade se indiretamente negamos de algum modo aquilo herdamos da humanidade para nos tornamos esse fato: articuladores de dados terceirizados. Que novo obscurantismo é esse que assombra esse tempo? Tanto na vida pessoal quanto na esfera política, esse cultivo do raso pensar segue produzindo seus efeitos, um fato debaixo dos narizes, um estado normótico que se multiplica numa realidade outrora inexistente.
Um falecido mestre, um dia escreveu a seguinte pergunta: Para onde vamos? Esse homem foi um estudioso da ética e da moral e os efeitos dos avanços tecnológicos. Por memória dele escrevi este texto. Sendo grato, pois ele foi um dos que me motivaram a pesquisa e ao livre pensar pelo busca do próprio saber, Outro mestre mostrou-me que o saber se dá em contínua construção, algo consolador, pois isso inclui o erro. Outro revelou e demonstrou que cada ideia, uma vez emitida em contato ao outro, não pertenceriam mais a mim, mas as interpretações. Entre essas interpretações, umas serão mais fidedignas outras contorcidas, outras totalmente equivocadas. Só espero que não terceirizadas "kkkkkkk", há grave mal nisso... Mas assim como um dos mestres fez uma pergunta, quero também escrever uma pergunta, o que faremos se estamos iniciados numa busca de um saber que gere espíritos livres? Toda essa realidade revela que há muito a fazer.
                                                                                                                              (L.Vasconcellos.47)

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